terça-feira, outubro 31, 2006

"Abyssus abyssum invocat"


Ignorou as primeiras gotas que lhe lavavam o rosto.
Continuou a caminhar.
A chuva tornava-se cada vez mais intensa. A visão começou a ficar turva com a água que lhe preenchia os olhos. Olhou em volta; as grandiosas ruas, vazias. A chuva também as lavara. O pensamento que outrora lhe ocupara o tempo, dissipara-se. Olhou em volta; o nada.
Enquanto a água preenchia as ruas e voltava a encher de novo as poças dos passeios desnivelados, conseguia de forma inacreditável fazer o que ela nunca tinha conseguido: apagar. Apagar as memórias, apagar os medos, apagar a coragem, apagá-la.

Ignorou a mão que a agarrava.

Continuou a caminhar.

2 Comentários:

Blogger Luis Duverge disse...

Óptimo texto ...intenso,aquoso e com memória selectiva. Uma combinação perfeita neste Outono.
Um bom fim de semana.

10 novembro, 2006 20:10  
Anonymous Anónimo disse...

Talvez não conheças o belíssimo conto de Trindade Coelho Abyssus Abyssum.Aconselho-te a sua leitura.Beijos

11 novembro, 2006 08:42  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial